terça-feira, 12 de abril de 2011

A POESIA REAL DE ALONSO ROCHA

Alonso Rocha - Príncipe dos Poetas Paraenses

“Se tivéssemos o poder de prolongar a vida do corpo físico de quem quiséssemos, Alonso Rocha certamente estaria entre os nomes que desejamos. Mas, somos mortais, e assim mesmo, quando nos encantamos com versos tão soberbos como os de Alonso, mesmo que não presente em corpo físico, seu espírito estará sempre imortal dentro de nós. Este poeta-trovador se indagava em sua trova:
Sem resposta que conforte,
dúvida imensa me corta:
Qual o segredo da morte? Fim? Partida? Porto? Porta?
Fim? Não existe fim para alguém que escreve versos tão sublimes. Serás sempre imortal.
Partida? Apenas deste plano físico, pois aonde vais é apenas o repouso merecido pelo que fez.
Porto? Você, caro poeta, era o porto de nossas almas, de nossas emoções.
Porta? Para ti, uma porta em direção a um andar superior onde observarás a nós que o reverenciamos, e que perpetuaremos seus versos e sua pessoa.
Eu te saúdo pelo legado que nos deixou. Salve, Alonso Rocha!”
(José Feldman)


I - Biografia

Raimundo Alonso Pinheiro Rocha nasceu em Belém em 15 de dezembro de 1926 e morreu em 23 de fevereiro de 2010, filho do poeta Rocha Júnior e Adalgiza Guimarães Pinheiro Rocha. Foi casado com Rita Ferreira Rocha e pai de cinco filhos: os médicos Sérgio Alonso e Nelson Alonso, Ângela Rosa (arquiteta), Geraldo Alonso (engenheiro elétrico e eletrônico) e Ronaldo Alonso (falecido em 1977). Conhecido como príncipe os poetas, Raimundo ocupou a cadeira número 32 da Academia Paraense de Letras desde 22 de Novembro de 1996, eleito em sucessão a Olavo Nunes e Bruno de Menezes, tendo como patrono o poeta Natividade Lima, participou da diretoria da Academia desde o ano de 1996, ininterruptamente, com mandato até 2.010. Por profissão, trabalhou como bancário, atuando também no sindicalismo no período de 1954 a 1976, tendo sido diretor do Sindicato dos Bancários do Pará e membro-fundador da Federação dos Bancários do Norte-Nordeste.

Foi o IV Príncipe dos Poetas do Pará, escolhido após consulta a um colégio eleitoral constituído de 200 personalidades integrantes dos círculos culturais, científicos e sociais do Estado, pessoas essas ligadas às artes e selecionadas por uma comissão especial formada pelos escritores Georgenor de Sousa Franco Filho, Pedro Tupinambá, Victor Tamer e Albelardo Santos. O resultado de votação através de voto assinado foi apurado em sessão pública do dia 8 de outubro de 1987, tendo recebido sufrágios de 14 poetas residentes no Pará. Por maioria absoluta de votos (56,77%) do total, Alonso Rocha foi eleito, tendo recebido na sessão solene de 21 de julho de 1989 (sesquicentenário de Machado de Assis) a comenda de 35 gramas de ouro, oferecida pelo governo do Estado do Pará.

Na adolescência, em 1942, fundou a Academia dos Novos em companhia de Jurandyr Bezerra, Max Martins e Antônio Comaru Leal. Ao grupo vieram juntar-se jovens intelectuais da época, como Benedito Nunes, Haroldo Maranhão, Leonan Cruz, Raimundo Melo, Fernando Tasso de Campos Ribeiro, Arnaldo Duarte Cavalcante, Gelmirez Melo, Edmar Souza, Benedito Pádua, Otávio Blatter Pinho, Antero Soeiro, Eduálvaro Hass Gonçalves, Alberto Bordalo e Lúcia Clairefort Seguin Dias.

Seu livro de poesias Pelas Mãos do Vento, obteve os prêmios Vespasiano Ramos (1954) da Academia Paraense de Letras E Santa Helena magno (1955) do governo do Estado do Pará. Em (2.004) foi presidente (por 4º. Mandato) da União Brasileira de Trovadores – seção Belém, tendo promovido em 1997 o I Jogos Florais de Belém, bem como o XIII Concurso nacional de Trovas no ano de 2.002/Belém-Pará.

A trova, forma poética que cultivou somente há pouco tempo, proporcionou a Alonso Rocha inúmeras vitórias em Jogos Florais e concursos pelo Brasil, notadamente no Pará, no Ceará, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Rio Grande do Norte e Rio Grande do Sul.

Como sonetista, foi apontado como um dos melhores dos últimos tempos e um dos maiores dos últimos 50 anos do Pará.

Malba Than, no livro A Lua (editora Luz, Rio, 1955) publicou o seu soneto à “Lua Cheia” e o classificou como “autêntico Príncipe da Poesia Contemporânea.

Alonso Rocha que, com muito encanto, declamou os seus trabalhos em festas literárias pelo Brasil, e sócio-correspondente das: “Academia Norte Rio-Grande de Letras, Academia Municipalista de Letras do Brasil, Academia Sete-Lagoana de Letras, Academia Eldoradense de Letras, do Cenáculo Brasileiro de Letras e Artes, sócio honorário da Academia Piauiense de Letras e cidadão honorário do Município de Marapanim-PA.

Poeta eclético, não aprisionado a escolas e sem preconceito com qualquer forma de manifestação poética, Alonso Rocha foi dinâmico colaborador da gestão e representatividade da Academia Paraense de Letras.

Sua derradeira participação em atividades literárias aconteceu em 2009 em Belém representando a Academia Paraense de Letras como Júri do II Prêmio AP de Literatura, da Assembléia Paraense.

II - Premiações

Recebeu vários troféus, medalhas e diplomas, resultantes de certames poético como: 1º. Lugar no concurso promovido pelo jornal “A Província do Pará” e Prefeitura Municipal de Belém (1961); 2° Concurso do Norte e Nordeste de Poesia, patrocinado pelo jornal “Folha do Norte”; Palma de Ouro e Palma de Bronze, no concurso Poetas do Mundo Lusíada da Academia de Poemas de Massachusetts (Estados Unidos da América -1987); Medalha de Bronze, no concurso Evolução da Cultura Brasileira, na segunda metade do século XX, do Cenáculo Brasileiro de Letras e Artes (Rio de Janeiro, 1933); 1º. Lugar, por unanimidade, do 1º. Concurso Nacional de Poesia do Clube dos Magistrados do Rio de Janeiro (1997) e honrosas classificações em concurso de sonetos em Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de janeiro; Medalha condecorativa José Veríssimo; Medalhas culturais Olavo Bilac, Paulino de Brito, Dr. Acylino de Leão, D. Pedro I; Centenário do Teatro da Paz; Bicentenário da Igreja São João Batista; Centenário da Fundação da Biblioteca e Arquivos Públicos do Pará, conferidos pelo governo do Estado do Pará; Conselho de Cultura do Pará e Academia paraense de Letras; Medalha Olavo Bilac, do Cenáculo Brasileiro de Letras e Artes; Medalha condecorativa da Academia Municipalista de Letras do Brasil e Diploma de Honra ao Mérito do Instituto de Educação do Pará.

III - Livros Publicados

"Pelas Mãos do Vento" (poesia) - Editora Falângola - Belém - 1955; e "Bruno de Menezes" ou a Sutiliza da Transição - (Ensaio ao lado de Célia Coelho Bassalo, J. Arthur Bogéa, João Carlos Pereira e Joaquim Inojosa) – Editora Universidade Federal do Pará – 1994. Nota: o mesmo trabalho (ensaio) foi publicado pela Universidade Amazônia, na Revista do Curso de Letras (Asas da Palavra) - Outubro de 1996; "O Tempo e o Canto" (poesia) - Universidade da Amazônia - Agosto de 2009.


IV - Poesias, Trovas & Sonetos


Prece por meu filho no dia de sua morte
(Para Ronaldo Alonso)


Ele era um pássaro, Senhor,
cujas asas feriste antes do vôo.
Ele era fonte
e sufocaste o canto em sua garganta
e pouca além da lágrima e do riso
– como apelo ou mensagem –
lhe deixaste.
Ele era frágil, Senhor,
e lhe enevoaste o entendimento
e com agudos espinhos o pregaste
tantos anos no seu leito.
Até seus olhos, Senhor,
– inquietos peixinhos coloridos –
aprisionaste
no reduzido aquário do seu quarto.
Mas eu te louvo, Senhor,
por Tua bondade
quando lhe ensinaste a gritar a palavra “mãe”
– única de sua boca –
como sinal de angústia e como hino de amor.
Hoje, Dá-me a beber, Senhor,
o Vinho de Tua Paz
na mesma taça de fel e sofrimento
com que o premiaste,
para que eu possa de joelhos
celebrar contigo
um retorno de um anjo ao Teu reinado!


Breve tempo
(Soneto)


Se me queres amar ama-me nesta hora
enquanto fruto dando-te a semente.
Se te apraz me louvar louva-me agora
quando do teu louvor vivo carente.


Aprende a te doar antes que a aurora
mude nas cores cinza do poente.
Se precisas chorar debruça e chora
hoje que o meu regaço é doce e quente.


A vida é breve dança sobre arame.
Sorve teu cálice antes que derrame
ninho vazio que o vento derrubou.


Porque quando eu cair num dia incerto
parado o coração o olhar deserto
nem mesmo eu saberei que já não sou.


Carta a um poeta
(Poesia)


Despoja-te do dorso em chamas
se em tuas mãos a palavra
– moeda de encantamento –
em versos sangra.
Não ocultes o teu rosto
deixa-o duplicado
no espelho da metáfora.
Se – Lua em pedaços –
o agora te destrói
Deus sem braços reinventa o amanhã
pois sonho é armadura
embora armadilha.
E se imensa a solidão
grita a tua fome ao deserto
porque se calas
o silêncio te incendeia
e te consome.


Soneto à jovem esposa
(Soneto)


Hoje eu te trago, em minhas mãos, guardada,
a gota d’água – a pérola serena –
que eu roubei de uma pálida açucena
recém-aberta pela madrugada.


Louco poeta que sou! (Oh! Doce Amada!)
Em trazer-te essa dádiva pequena.
Culpa as estrelas, culpa a cantilena
do vento. E em nossa alcova penumbrada
dormes. E nem percebes no teu sono
que em teus lábios, fechados, abandono
a lágrima de luz – um mundo pleno.


Não despertes, ririas certamente
se me visses beijando, ingenuamente,
tua boca molhada de sereno.


Caderno de trovas


A igreja, as flores e o eleito,
ela de branco e eu tristonho;
foi o cenário perfeito
para o enterro de meu sonho.


Ao lembrar que o teu brinquedo
é decifrar-me, sorrio…
– De nada vale o segredo
de um velho cofre vazio.


Dei conforto em hora aguda
a tantos (que nem mais sei),
mas na dor só tive ajuda
de mãos que nunca ajudei.


De uma paixão incontida,
o tempo – insano juiz 
pode curar a ferida
mas nos deixa a cicatriz.


Em sofrer minha alma insiste
mesmo sabendo, também,
que a dor da espera é mais triste
se não se espera ninguém.


Quem se julga eterno herdeiro
de um mundo farto e bizarro,
esquece que Deus – o Oleiro –
cobra o retorno do barro.


Não desistas nem te dobres
se o teu trabalho é perdido,
pois nos garimpos dos pobres
há sempre um veio escondido.


Nas manhãs, num velho rito
(com o fim de protegê-las)
o Sol – pastor do infinito 
guarda o rebanho de estrelas.


O Tempo em constante jogo,
renova a festa pagã
quando o Sol – centauro de fogo 
rasga as vestes da manhã.


Por esse amor insensato
eu sei que o céu me condena,
mas a escolha do meu ato
eu troco por qualquer pena.


Por que tanto preconceito,
cobiça, orgulho e ambição,
se os homens só têm direito
a sete palmos do chão?


Quando já idoso e grisalho
te abraças numa paixão,
o tempo é o roto espantalho
que te afugenta a razão.


Quando o sofrer é infinito
e a vida nos deixa a sós,
ao sufocarmos o grito,
grita o silêncio por nós.


Se em noite de Lua cheia
rolas em doce arrepio,
de certo um boto vagueia
na preamar de teu cio.


Sempre que eu sonho na vida
sou, numa luta sem jaça,
borboleta enlouquecida
batendo contra a vidraça.


Sem resposta que conforte,
dúvida imensa me corta:
Qual o segredo da morte?
Fim? Partida? Porto? Porta?


Sobra do amor, rarefeita,
e tudo o que me restou,
a ternura é a flor que enfeita
o jarro triste que eu sou.


Tu partiste: em penitência,
sem pranto que me conforte,
eu sinto na dor da ausência
tua presença mais forte.


Poema do último instante
(Ao poeta José Guilherme, onde estiver)


Havia o sonhador
a mesa e os seus convivas.
O pão infermentado
fragmentado
e o vinho das angústias.
– Senhor! Afasta o cálice ( câncer sobre a carne)
e a cruz dos sem-perdão.
Deixa-me (ainda) repartir os peixes 
e os lírios de teus campos
– dízimo deste encanto
lobo que me devora.
Atira sobre o poema o círculo perfeito
e os dados da palavra.
Derrama a chuva
tua lança e os teus cravos
na terra que semeio.
Assim falava o Poeta
enquanto o sol e outros deuses (os mortos esquecidos)
com essência de mirra em seus turíbulos
já perfumavam a pedra
– altar para o seu corpo.


Soneto à luz cheia
(Trova)


Lua de celofane – lua amarga,
a mensagem de amor que hoje me trazes
rasga no coração como tenazes,
essa dor que se alarga, que se alarga.


Lua de gesso estéril, em tua carga,
por não me decifrar, tu te comprazes,
em ver que eu sou, em tons tristes, lilases,
jogral de um circo azul, na noite larga.


De sofrer já cansei, mas dizes: – “Ama!”
e tua luz – espelho onde me encanto –
na ante-manhã deserta, se derrama.


Porém não creio mais no teu milagre;
– quem teve tanto amor, odeia tanto;
eu que fui vinho agora sou vinagre.


Soneto de Natal
(Soneto)


Anjos de asas de graça reluzente
junto ao Menino nu na manjedoura
tangendo bois de luar me vêm à mente
no leve sopro de uma flauta moura.


Como invejo o carneiro displicente
a ruminar a palha acolhedora
ainda orvalhada pelo sangue quente
da placenta da nuvem redentora.


Pastor de versos, pássaros e sapos,
guardando poemas na mochila em trapos
e grãos de areia – resto do destino
sonho um dia encontrar a estrela-norte
e segui-la ao deserto além da morte
puro, inocente e nu, feito o Menino.


Amargo canto
(Poesia)


Haste pendida no abismo
ostra em mar perdida
víbora
em ventre de luz.
Com tua coroa de espinhos
trançada por ladrões
ladras crucificadas
e na treva
perdoas a que lança os dados
e a que lava as mãos e seus anéis.


No rio
os manguezais
amarelecem o sangue de teus punhos
e a teus pés a ânfora da solidão
recolhe a tua sede
e a tua nudez.


Oh! Minha alma! Desce de tua cruz
e minha túnica devolve
e as trinta moedas
cobradas pelo amor.


Noturno canto
(Soneto)


Das papoulas da noite colho o espanto
– chuva antes da Lua aparecer –
e das gotas do orvalho teço o canto,
mistura de cansaço e de sofrer.


Na armadilha da aranha aceito o encanto
( macho prestes a amar e fenecer)
e da ferida aberta flui-me o pranto
– linfa de garça em vôo de se perder.


Ninguém percebe como dói a espera
– ave noturna, cais de pedra, fera –
atalho de um caminho amargo e escuro.


Então floresce o poema, essa oferenda,
mais sombra do que luz, trapo que renda,
flauta de amor de pássaro maduro.


Soneto à mesma flor


Quando moço roubei na madrugada
do seio de uma flor recém-aberta
uma gota de orvalho e como oferta
a deixei em teus lábios, abrigada.


Hoje, quando recordo (Oh! Doce Amada!)
esse tempo de arroubo e descoberta
uma saudade, trêmula, desperta
e vem sangrar-me com a sua espada.

Iguais a flor, também envelhecemos
mas ao despetalar ainda trazemos
almas unidas, mãos entrelaçadas,
porque do amor a essência mais preciosa
( assim como o perfume de uma rosa)
permanece nas pétalas secadas.


Referência:
* Sindicato dos Bancários do Pará/Amapá;
* Blog Porto dos Sonhos e das Poesias by Sarah Rodrigues

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

AS LETRAS AMAZÔNICAS ESTÃO DE LUTO!

Benny Franklin & o Poeta Alonso Rocha

Filósofo Benedito Nunes

As letras amazônicas estão de luto.

Esta Academia está de luto.

Morreram, esta semana, os escritores: Alonso Rocha (Príncipe dos Poetas Paraense e Presidente da Academia Paraense de Letras) e Benedito Nunes (Filósofo) reconhecidos internacionalmente.

A Academia dos Poetas Paraense lamenta as perdas, mas seguirá mantendo vivo o trabalho fenomenal desses gênios.